terça-feira, 9 de agosto de 2016

A dor

É a dor que faz o rabisco do poema no papel. É a dor que desencadeia as palavras. É dela, que vem o poder de transformar algo tão ruim em um sentimento tão bonito, tornar algo tão lindo aos olhos de quem lê. É a dor quem faz o poema fluir. É a dor que faz o autor. O leitor. Que faz de algo tão mórbido, tão lindo e rebuscado, algo para ser admirado. É a dor. O pior dos sentimentos que move as palavras e escreve as frases. É a dor que faz da solidão, arte.

terça-feira, 26 de março de 2013

Um pedacinho de mim.























A qualidade ficou horrível ): mas foi scaneado do diário de escrita, então...

Cartas para Valentina.

Há tempos parei para pensar em ti, Valentina. Tu foi tão compreensiva, tão paciente, tão amorosa. Porém não posso suportar isso, sou incapaz. Por que me correspondeu? Se agora me encontro fechada nesse quarto que me amedronta e amarrada a esta cama. Por que surgiu na minha vida e tocou no meu corpo? Por que me julgou uma boa mulher quando conversava contigo antes de dormir? Comprei tantas roupas, fiz tantos planos, quisera eu que você soubesse como me alegrava te imaginar, te sentir comigo.
Poderia ter me dado um aviso, Valentina. Poderia ter te perdido antes de te apelidar de minha pequena. Tu foi injusta. Aquelas mulheres as quais poupei do sofrimento foram apenas mulheres, se eu não poderia ter-te junto a mim, por que elas poderiam ser felizes junto às suas Valentinas?
Tenho apenas mais alguns segundos para escrever para ti. Já está na hora de tomar sol e logo as enfermeiras virão ao meu encontro. Elas me olham com tanto desgosto, tanta repulsa. Ouço-as cochicharem quando se afastam de mim. Sei que ainda me escuta e me entende, por mais que elas digam que eu nunca concebi uma criança. Sei que tu morava dentro de mim, sei também que me compreende e sabe que feri aquelas grávidas, pois se não pude ter-te comigo, elas não poderiam ter seus filhos. Sejamos justas, eu apenas fui justa. Agora preciso ir.
Sinto tua falta.
Abraços para minha pequena Valentina.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Margaridas.


“Ah, convenhamos. Nenhum de nós esta feliz agora, nenhum está satisfeito, nenhum está nada. Há um buraco muito negro nos puxando e tudo o que eu posso fazer é tentar ser mais eu e menos nós, antes eu do que nós, antes a sua morte a minha. Embora eu não saiba se é isso o que eu quero, não solte a minha mão, por favor, segure firme o máximo que aguentar até o escuro tomar conta dos seus olhos, suas entranhas remexerem e a náusea tomar conta de seu estomago. Não solte a minha mão. Se der tudo certo eu volto para Virginia esse fim de semana, nessa sexta talvez. Enrolarei as roupas e levarei a mochila nas costas. Vou fingir que nada aconteceu, se me perguntarem de você, vou dizer que não sei, se me perguntarem como está, vou dizer que não posso responder mas se insistirem vou correr. Correr pra lá, aquele jardim com margaridas que eu costumava ir quando criança, que nós costumávamos ir. Vou correr, vou arrancar margarida por margarida até perder o ar até restarem apenas os galhos verdes. Irei preencher a lata que guardo no armário com elas e as restantes irei jogar em cima de seu caixão. Quem sabe assim deixo de ser menos nós e mais eu.”

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O quarto.


 5 minutos, seguido de 10, intercalado de 12. Acordei, aspirei, morri. O quarto era gelado e as paredes passavam uma certa frieza se encaradas por algum tempo. Ao lado esquerdo a cabeceira amarelada, marcada com um 212 na parte de baixo, o qual eu podia ver quando minha cama era rebaixada significantemente em uma parte e eu era colocado de bruços para que meus órgãos pudessem trabalhar melhor. Do lado direito, 5 mesas mal distribuídas de tamanhos e formas diferentes e em cima de cada uma variedade de medicamentos, copos, lenços e aparelhos dos quais eu não me recordo. 
 O lençol era velho e gasto, suas extremidades estavam desfiando e isso fazia com que minhas pernas coçassem conforme ele era colocado sobre mim. Sem televisão, sem rádio. Apenas um quadro com 3 formas triangulares em progressão. Um azul degrade se espalhava entre os espaços dos triângulos, formando formas estranhas e abstratas. O pior quadro da minha vida, as piores cores da minha vida. Agora não há mais lençol, medicamentos, cores desagradáveis e números. A única coisa que me preocupo é se minhas mãos e pés voltarão ao normal, apesar da cor roxa ser uma novidade e me agradar bastante.